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Resenha VI: "A Fogueira da Bruxa"

Em A Fogueira da Bruxa, com 241 páginas, foi escrito pela autora Barbara Sena e publicado pela Editora Coerência, no ano de 2018.


O livro nos apresenta o fim da Idade Média, por volta do século XV, na Europa, período que marcou gravemente a história da sociedade.

Allegra Bellini é uma jovem curiosa e obstinada, moradora de uma vila pacífica e acolhedora, onde nasceu e cresceu. De família abastada, foi criada em um ambiente confortável e sem muitos esforços, mas perdeu parte de seus bens por conta de problemas familiares.

Filha única, a protagonista era muito apegada aos pais, mas havia também a governanta, Francesca, que a criou com amor e dedicação e lhe ensinou a despertar sabedoria e caráter, o que leva por toda a sua história.


🆘Alerta de Spoiler de A Fogueira da Bruxa🆘


Em determinada noite, enquanto caminhava pelos arredores de sua casa, Allegra conheceu, pela primeira vez, os Inquisidores, enviados pela Santa Igreja Católica para capturar e julgar as bruxas da vila. Desde então, a paz deu lugar ao caos, e o acolhimento ao medo e desconfiança.


Allegra nunca compreendeu as injustiças impostas pela religião e se via cada vez mais abespinhada com o preconceito sofrido por mulheres e pessoas que simplesmente pensavam diferente.

Acusada de bruxaria e heresia, simplesmente por ajudar alguém que amava, a protagonista é levada para interrogatório e vê-se em um inferno inimaginável, tendo seu destino alterado drasticamente. Sofrendo tortura constante, Allegra precisará suportar tudo aquilo para manter sua dignidade. Como uma mulher pode confessar-se bruxa quando nem mesmo acredita na existência delas? Seria a Srta. Bellini capaz de suportar tudo o que o universo lhe proporcionou? Se fosse capaz de fugir, como sobreviveria?


Não deixe que o desespero a condene.” (p. 80)

Com uma narrativa envolvente e chocante, Barbara Sena nos apresenta um mundo de dor e sofrimento, em um cenário onde a maldade se mostra clara e existente. Um mundo realista e cruel, onde ninguém jamais desejou estar, mas que, graças à ignorância e ao preconceito, foi colocado como uma mancha em nossa história.


Me impressionou o quanto de conhecimento foi anexado na trama, havendo informações reais e úteis não só no cotidiano, mas também na construção de mentes mais tolerantes, inteligentes e abertas, para que a humanidade não conheça novamente tamanha crueldade.


O livro é narrado em terceira pessoa, de forma bem descritiva, e me vi imersa em fatos e relatos horripilantes. Porém, a principal visão apresentada é a da protagonista, Allegra.

A Fogueira da Bruxa não carrega em si apenas drama e horror, mas neste também há um curto romance, que suavizou a história em determinado momento, trazendo alívio em meio ao caos.


Essa é, de fato, uma história muito pesada e gritante, mas também cativante, de forma que não consegui largar antes de finalizá-lo e não foi, de forma alguma, uma leitura difícil, pelo contrário, flui muito bem e seu final inesperado deixou uma sensação gostosa de satisfação.


Allegra é uma personagem amável e digna, que apesar de tão nova, tem grande conhecimento e uma necessidade incessante de descobrir novas realidades. Senti-me extremamente grata por conviver com uma pessoa tão surreal e ao mesmo tempo tão palpável. Pude sofrer, amar, sorrir e chorar com ela em cada um dos capítulos e senti curiosidade e ansiedade incessantes a cada nova página. As situações dentro de sua história são muito bem colocadas e amarradas, sem deixar pontas soltas e a maneira com que foi repassado os sentimentos, os pensamentos e os novos conhecimentos de Allegra é extraordinária e saborosa. O desenvolvimento da protagonista é visivelmente gradativa e acontece de forma normal, sem pressa, mas as mudanças são claras ao fim da trama. E isso me fez guardar a verdade de que a dor realmente muda as pessoas.


O verdadeiro sábio conhece a hora de falar e a hora de calar.

A Fogueira da Bruxa é uma história cativante, realista e linda, de superação e perseverança, que merece e deve ser conhecida para que o homem jamais seja manipulado novamente por ideias fúteis e incoerentes de desigualdade e desrespeito. Precisamos sobreviver à crueldade, mas acima de tudo evitá-la. E é essa a mensagem que o livro nos passa.


Indico a todos que gostam de histórias inteligentes e cativantes e a vocês que procuram uma história rápida e maravilhosa.


Resenha de: Sakura O'Brien

Edição: Werterley Martins da Cruz


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