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Resenha I: "O Rouxinol" de Kristin Hannah

Atualizado: 19 de jun. de 2018




O Rouxinol, escrito pela autora Kristin Hannah, foi publicado no Brasil em 2015, pela Editora Arqueiro. O livro é composto por 432 páginas e trata-se de um livro único de ficção americana.


Na França, no período da Segunda Guerra Mundial, o livro apresenta ao leitor a história das irmãs Rossignol, duas mulheres de personalidades, sonhos e paixões distintas, mas com um objetivo em comum: lutar por aquilo que acreditam.

Isabelle é uma garota atrevida e petulante que, mesmo depois de tantos anos, não desistiu de procurar, em seu pai e irmã, as demonstrações de afeto que foram perdidas desde a morte de sua mãe. Seu maior sonho é ser reconhecida como mulher, como heroína e não será parada pelos perigos da guerra. Pelo contrário, vê no conflito uma forma de fazer o que tantos homens temem: lutar pela pátria e pela liberdade.

“Quem salta de um precipício ao menos vai voar antes de cair.” (p.118)

Vianne é uma mulher dedicada que, depois de tantas provações, possui uma família feliz e saudável, apesar de sentir-se tão culpada por não ter sido a irmã que Isabelle merecia e tanto precisou no passado. Tudo vai bem e a calmaria de sua vida é palpável, até que uma carta traz a passagem para um futuro indesejado e incerto: A guerra. Antoine, seu marido e maior amor, foi convocado para a guerra. Com suas incertezas e esperanças tão frágeis, ela será obrigada a descobrir sozinha a sua própria força, não apenas por si, mas por sua filha, Sophie.

Em busca de proteger o que possuem de mais importante, Vianne e Isabelle precisaram enfrentar a dor, a humilhação, o medo e a destruição para sobreviver à tão temida e inimaginável guerra.


A guerra se expande a cada instante e, apesar da resistência inicial, o governo da França se rende, entregando aos inimigos as esperanças e confianças de seus habitantes.

Isabelle, após mais uma vez ser desprezada pelo pai, foi em busca de sua liberdade e objetivo, saindo junto à multidão sem um rumo a seguir. Porém, em seu caminho, o destino se encarregou de colocar Gaëton, um prisioneiro liberto pela guerra, que assim como ela tem o desejo de lutar pelo seu país e pode ser tudo o que ela precisava para ver a vida e o mundo de uma maneira diferente. Ou era isso o que esperava.


O amor durante a guerra parece libertador, um antídoto, mas não é bem assim na história. Como pode ser possível demonstrar afeto durante um conflito e tempos tão difíceis, onde a incerteza de um dia a mais de vida é tudo que resta?

O amor de Gaëton e Isabelle é inicialmente genuíno, provável e as expectativas de um novo rumo para a história tornam-se altíssimas. Mas, assim como o destino os uniu em uma caminhada rumo ao desconhecido, a realidade se encarregou de separá-los. Mesmo depois de presenciarem tantas mortes, tanta maldade e cenas que permaneceram em suas memórias de forma dolorosa. Mesmo depois de todo o medo que enfrentaram juntos, apesar de serem meros desconhecidos um para o outro, foram separados pela guerra.

“Um coração magoado dói tanto em tempos de guerra como de paz.”(p.324)

Após a rendição, tudo se tornou ainda pior. A França foi ocupada pelos inimigos e os civis obrigados a seguir o novo código de leis  incoerentes, abandonados à mercê de soldados sem escrúpulos, cruéis e egocêntricos, em sua maioria. A alimentação se tornou escassa e, a cada dia, as ameaças à vida e às esperanças dos franceses se mostravam mais iminentes. Qualquer forma de apoio a uma França livre passou a ser considerado crime, sujeito a penas impiedosas. Soldados alemães passaram a aquartelar nas moradias e estabelecimentos dos civis, que também eram obrigados a recebê-los. Uma das casas escolhidas foi a de Vianne, que se viu frente à maior dificuldade de sua vida: alimentar e servir ao inimigo, enquanto seu marido sofria as dores da guerra.


Capitão Wolfgang Beck, não era um homem ruim, mas sim um jovem educado, apesar de ter sido apresentado tão cedo à crueldade da guerra, e apesar de Isabelle, que passou a viver com a irmã, não aceitar conviver com um alemão, Vianne e Sophie criaram uma relação de respeito com o homem. Até que este partiu, e aquele que veio em seu lugar era inclemente, com atitudes desumanas e o medo se tornou constante para Vianne. Apesar de tudo o que sofreu, jamais desistiu, pois ainda acreditava na volta de seu marido, seu maior desejo, e sabia que a vida de sua filha dependia de sua força e resistência.


Enquanto Vianne enfrentava seus próprios demônios, Isabelle passou a seguir seus próprios caminhos, lutando para sabotar o inimigo, de forma discreta. Passou a ser conhecida como Juliette Gervaise, a mulher que ajudou tantos americanos a voltarem aos seus países. Mas isso lhe custou caro, e finalmente conheceu o quanto a vida real pode ser dolorosa. Nunca mais foi a mesma, vivia a cada dia com a incerteza de um novo dia, mas jamais pensou em desistir, pois o seu país dependia de sua força. No futuro, voltou a ser confrontada pelo amor, vendo nisto o seu porto seguro e só desejava nunca mais ser deixada.


O Rouxinol também nos apresenta a crueldade da guerra por outros contextos, nos colocando imersos em uma história de medo e sofrimento, onde as pessoas eram mortas apenas por serem judias, ou por terem cores e crenças diferentes. Eram tratadas como animais e maltratadas de forma que não se lembravam nem mesmo quem eram ou foram um dia. Famílias foram separadas pela maldade humana, pela intolerância e desamor, e danos como esses jamais foram compensados. A ignorância de algumas pessoas trouxe ao mundo, como mostra a história, o auge da guerra, o auge da crueldade. Na história, Isabelle e Vianne Rossignol sentiram na pele tudo isso e, mesmo depois de todo o ocorrido, perseveraram e jamais se esqueceram de que muito lhes foi tomado, mas sua alma, bondade e perseverança, por mais que feridos, era o que realmente importava.

“Eles não podem tocar a minha alma.”(p.360)

O Rouxinol, inicialmente, é narrado em primeira pessoa, mas à partir do segundo capítulo a narrativa é feita por um narrador observador (em terceira pessoa), pela perspectiva das irmãs Rossignol, transmitindo ao leitor uma visão mais ampla, e ao mesmo tempo íntima ao leitor. A história é bem detalhada e a leitura um pouco demorada, sem deixar de ser envolvente.


A autora possui uma escrita peculiar, que dá àquele que a lê uma sensação de aproximação aos personagens, transmitindo perfeitamente os sentimentos e sensações.


O Rouxinol é uma leitura aconchegante e triste, com personagens cativantes e únicos, que ganham espaços proporcionais na história.

Isabelle é uma personagem cativante, com sentimentos belíssimos e uma personalidade e visão do mundo que enriquece a imagem e o empoderamento feminino. Esta, demonstra a força que as mulheres têm e que os limites impostos por uma sociedade desigual, são apenas imaginários. Enquanto Vianne, mais reservada, mostra outra forma de viver e enxergar o mundo sendo forte da sua própria maneira, se arriscando o mínimo possível e tendo como maior bem a família e se casamento.


Isabelle ajudou diretamente na guerra, apesar de sua participação não ser convencional, formando também soldados aliados mais fortes, mesmo que tenha sido preciso abrir mão de si mesma.

Mas Vianne prestou uma ajuda indireta, se arriscando para proteger aqueles que amava e salvar crianças judias, escondendo-as mesmo enquanto tinha um inimigo em sua própria casa.


Portanto, o que essa história leciona é que, em tempos de guerra não há forma certa de ajudar. Cada um tem o seu papel, são heróis de formas distintas, mas, ainda assim, heróis.


O Rouxinol é uma história que deve ser conhecida por todos para que nunca mais o mundo sinta, ou as novas gerações conheçam, as consequências da crueldade e intolerância humana. Para que nunca mais a população se deixe ser manipulada por mentes desumanas.


O Rouxinol é uma história emocionante, cativante e incrivelmente linda.


Resenha de: Sakura O'Brien

Edição: Werterley Martins da Cruz

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