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Resenha II: "Hálito" [Monólogo] de Gilda Freitas




"Não se preocupe com o amor, o primeiro amor sempre chega de vagarinho."

Hálito é um monólogo escrito por Gilda Freitas e publicado pela Editora Karuá. O livro tem acabamento em capa dura e é bem anatômico, com a capa simples, mas linda, que me chamou atenção desde a primeira vez, assim como o título.

Com uma premissa única, narrado por Flora, uma senhora de 81 anos que nos conta seus arrependimentos e sua trajetória, não como uma biografia fictícia, mas como um romance dramático. Hálito é a história de uma mulher forte, mas que, desde a infância, foi muito limitada pela época e sociedade em que vivia, apesar de ter sempre em seu coração o desejo de liberdade e plenitude.

O livro é dividido em duas partes: presente e passado, respectivamente. A primeira é repleta de metáforas e ironias, carecendo de uma atenção maior à leitura, enquanto a segunda se apresenta como uma explicação deste início.

No passado, Flora sofreu com a perda do pai, com quem era muito apegada e se viu obrigada a adaptar-se à nova realidade. Como uma moça do século XIX, era obediente à religião da família e se comportava de acordo com as regras impostas às mulheres. Via-se em um mundo onde as mulheres deveriam apenas nascer, crescer como "moça direita", casar-se com um homem de boas condições e ser mãe, mas não era esse o seu desejo.

Inicialmente dada em casamento a um rapaz que nem conhecia, com toda a sua teimosia conseguiu reverter a situação, talvez este seja o seu primeiro passo para o destino.

Depois do término, Flora tentou convencer a sua mãe a passar uns tempos em Recife, junto à sua tia, mas apesar da recusa da mãe, o futuro lutou ao seu favor. Em Recife, Flora conhece o mar, mulheres decididas e independentes e, por fim, José Maria, o homem por quem se vê perdidamente apaixonada.

Seria mesmo, José Maria, o amor de sua vida?


Através de um monólogo encantador e triste, Flora conta sua trajetória até a velhice, quando se vê próxima ao fim e não vê mais motivos para sorrisos. Suas lembranças do passado são como chocolate amargo, oscilando entre momentos nostálgicos e outros amargos e dolorosos. O romance de sua vida foi o que mudou todo o seu futuro e a tornou descrente na vida e insensível, porém que também a levou a viver sua vida como a mulher independente que tanto desejou se tornar. Mas a que custo?

A história é simplesmente arrebatadora, leva o leitor a outras décadas, a um mundo diferente e, talvez, até apaixonante. A narrativa bem produzida me transmitiu perfeitamente os sentimentos da doce Flora, me arrancando risos e lágrimas, olhares de fúria e de curiosidade.

A história dá forças ao feminismo e a liberdade sem julgamentos, o que achei extremamente interessante e importante para os assuntos que aborda, chamando a atenção da mulher atual para o vasto mundo que ainda há para viver.

A revisão é muito bem feita e a distração espetacular, com detalhes simples, mas que fizeram toda a diferença para a beleza da obra.


É uma história linda e triste, como o canto de um rouxinol, que me prendeu do início ao fim e ganhou meu coração com um final inesperado.

Recomendo para todos aqueles que gostam de uma boa história de amor e drama, com uma pitada de solidão. Além de possuir uma grande importância didática, devido ao seu contexto, o século XIX.

Não é como um conto de fadas. Se tem um final feliz ou não, depende daquele que o lê, mas com certeza é conquistador e único. Hálito não é apenas um livro, mas uma obra de puro sentimento.


"O que sinto quando o outro parte é que leva um pedaço generoso de mim. A despedida só existe quando é involuntária a partida."

Resenha de: Sakura O'Brien

Edição: Werterley Martins da Cruz

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